Matilde já nem faz caso. Desvaloriza as dificuldades que sente na escola. Diz que não consegue, e pronto. Conformou-se. Há muito tempo que se debate com fragilidades na aprendizagem. Angustiada, chegou a pensar que era apenas preguiça... mas depois percebeu, ela e os pais, que era mais do que isso.
Os professores dão a matéria e Matilde, apesar de se esforçar, não tem conseguido acompanhar. Nem na escola nem em casa, no momento de fazer os trabalhos. Todavia, isso não significa que tenha competências inferiores às dos colegas. Não. O que se passa é que apresenta uma perturbação de aprendizagem específica, comum a tantas crianças. Uma perturbação que, por também poder afetar emocionalmente as crianças, pode levar a alterações ao nível do comportamento e da postura, podendo assim manifestar agitação, passividade, inibição, falta de atenção, entre outros. Assim, não são raras as vezes que esta situação leva a estigmas que devem ser contrariados por professores e pais atentos, sendo, por vezes, vividos com sofrimento por parte das crianças que sentem dificuldades.
É importante sublinhar que cada criança tem o seu ritmo de desenvolvimento e de aprendizagem. O sucesso da aprendizagem escolar depende de múltiplos fatores: genéticos, psicoemocionais, socioculturais, pedagógicos, institucionais e familiares. Estudos recentes indicam que o fraco desempenho escolar afeta 15% a 20% das crianças, no início da escolaridade.
E é neste contexto que surgem as perguntas pertinentes e que não devem ser de todo negligenciadas: Como podemos ajudar crianças como a Matilde? Existirão especialistas aptos para ajudar os pais a compreender o que se poderá estar a passar e que orientem a forma como a apoiar ou que possam mesmo intervir diretamente com a criança? Estamos perante um verdadeiro sinal de alarme? O que fazer?
Vejamos. O primeiro passo é discutir estas preocupações com a escola, com os médicos ou com um psicólogo. Mas que não restem dúvidas: um aluno com dificuldades de aprendizagem pode ser tão ou mais inteligente do que os colegas com melhores resultados. A origem desta perturbação deve, efetivamente, ser avaliada com exatidão por um especialista. Por vezes pode estar relacionada com um quadro de défice de atenção, mas, noutro extremo, pode também ter na sua génese um comprometimento severo de caráter neurológico. No entanto, este não é o caso de Matilde.
Eis algumas questões que o podem ajudar a decidir sobre um eventual pedido de ajuda:
1. O que o levou a fazer essa pergunta agora? É uma reação a algo específico que aconteceu recentemente? O professor sugeriu que fosse feita uma avaliação? A Matilde levantou preocupações sobre a escola?
2.Há quanto tempo surgiram as preocupações? A Matilde tem dificuldade em entender ou em seguir instruções? Não costuma lembrar-se do que as pessoas disseram? Não distingue a direita da esquerda? Confunde a ordem dos números e as palavras? Revela falta de coordenação?
3. De que forma é que a Matilde se posiciona perante os desafios escolares não superados? Tem dificuldades, por exemplo, na leitura e na matemática? Manifesta dificuldade em organizar as tarefas escolares? Tem dificuldade em se concentrar na aula? Está muito distante do nível de aprendizagem dos colegas com a mesma faixa etária?
4. As dificuldades que apresenta na escola também se verificam em casa? Sucedem-se de ano para ano, mesmo com professores e com colegas diferentes?
É essencial que os pais da Matilde consigam identificar o início do aparecimento dos problemas de aprendizagem. Depois de identificadas as dificuldades, há várias formas de a ajudar no dia a dia. Seja compreensivo, para que o processo de aprendizagem se torne mais fácil. A Matilde precisa de carinho, atenção e confiança. Encoraje-a a relacionar-se com outras crianças, a enfrentar as suas emoções e eventuais medos.
Pressionar a Matilde para que tenha boas notas nunca é uma boa solução. Aprender sob pressão não resulta, na medida em que poderá potenciar o sentimento de insegurança e até de receio de ir à escola, refletindo-se, depois, nos resultados escolares. Colabore na organização diária dos materiais, dos horários e do ambiente de estudo. Nunca se esqueça de a elogiar à medida de cada progresso, fazendo notar, igualmente, que as derrotas fazem parte da vida e que com elas podemos aprender muita coisa.
Dialogue com os professores, partilhe dúvidas e informações. Procure apoio. Um psicólogo infantil ou um psicopedagogo ajudarão, de facto, a ultrapassar barreiras e a encontrar os melhores caminhos para reforçar o desenvolvimento socioemocional da Matilde, os processos cognitivos, a autoestima e a criatividade.