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Os Professores e os processos de mudança: algumas notas prospetivas

Eu tenho ideias e razões
conheço a cor dos argumentos
E nunca chego aos corações.
(Fernando Pessoa, Inéditas, p. 427)


1. O professor desempenha um papel central na transformação das práticas educativas e na melhoria dos processos e resultados de ensino.

2. As condições de trabalho são um fator determinante em qualquer processo de mudança. Uma mudança efetiva das práticas passa necessariamente pela melhoria dessas condições: ratio professor/alunos, espaços físicos letivos, espaços para trabalho colaborativo, recursos didáticos, sistemas de escuta/comunicação, dispositivos de implicação/valorização, tempo para trabalho coletivo são algumas das condições de trabalho que urge equacionar.

3. Qualquer projeto de mudança é objeto de uma interpretação/avaliação por parte de cada professor. O sentido que o professor lhe atribui (e que determina, em grande parte, a sua postura face à mudança proposta) decorre de três critérios básicos: instrumentalidade, congruência e custo.
  • Critério da instrumentalidade: a mudança proposta/decretada explicita claramente os princípios, os objetivos, os processos e os resultados? O projeto mostra claramente o que o professor deverá fazer e é praticável?
  • Critério da congruência: a mudança proposta/decretada responde potencialmente a uma necessidade? Os alunos estarão interessados? Vão aprender mais? O projeto ajusta-se às condições estruturais de trabalho? É compatível com a imagem que o professor tem de si mesmo?
  • Critério do custo: de que modo a mudança afetará pessoalmente o professor, em termos de tempo, energia, novas qualificações, exigências acrescidas? Que esforços acrescidos serão necessários? Que tipo de recompensa (material, simbólica...) receberá o professor?

A mudança é realizada pelas pessoas. As suas satisfações, frustrações, preocupações, motivações e perceções pessoais desempenham um papel central no sucesso/insucesso das inovações que se querem instituir. Daqui decorre que a pessoa do professor deve estar no centro das preocupações/intervenções, sendo aconselhável trabalhar pessoalmente com os professores para os fazer compreender o seu papel no processo de transformação.

Neste contexto, só uma prática de escuta, de proximidade, de apoio efetivo, de reconhecimento, de valorização, de criação de melhores condições de trabalho pode augurar o sucesso das ‘mudanças’ anunciadas.

 
José Matias Alves
Professor Associado Convidado na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa
Diretor Adjunto da Faculdade de Educação e Psicologia
Coordenador do Serviço de Apoio à Melhoria da Educação (SAME)
Coordenador do Doutoramento em Ciências da Educação
Membro integrado do Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano (CEDH-UCP)
Autor de livros e artigos no campo da administração e organização escolar

 
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